Grupo de Perseverança
"Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações " (At 2,42).
1. Introdução
Não basta despertar a fé e promover a experiência de pentecostes. O fiel deve ser conduzido ao crescimento e à formação. A evangelização querigmática deve levar à evangelização catequética. O objetivo final de toda evangelização é a formação da comunidade cristã e ela só é formada com a perseverança daqueles que foram evangelizados. Muitas vezes, os grupos de oração são lugares por onde as pessoas passam, chegam, ficam algum tempo e depois saem porque não encontram um alimento adequado à sua espiritualidade. Existem dois riscos: o primeiro é formar grupos de oração que atendam à necessidade de aprofundamento e catequese e não acolhem aqueles que precisam de uma experiência inicial; o segundo, é formar grupos que atendam à necessidade de uma experiência de conversão e não criam mecanismos para aprofundar a fé. Daí a necessidade de momentos distintos para o mesmo Grupo de Oração: querigma e catequese. Dois momentos que se complementam e acontecem em tempos distintos. Em alguns lugares este momento de perseverança é chamado de grupo fechado, grupo de abastecimento ou grupo de perseverança. Aqui foi adotado este último por ser mais próximo daquilo a que ele se destina. O grupo de perseverança é, portanto, o terceiro momento do Grupo de Oração.
2. Considerações gerais
Participar de um grupo de perseverança é, antes de tudo, um convite a começar um caminho. De um modo geral, podemos dizer que uma pessoa que inicia o caminho num grupo de perseverança possui:
. Uma experiência pessoal do amor de Deus e do batismo no Espírito Santo;
. Uma atitude de procura, manifestada no desejo de dar um sentido à sua vida;
. Um desejo de dinamizar a fé pessoal através de uma relação mais constante e intensa com Deus;
. Um desejo de transformar o contexto em que vive;
. Uma necessidade de viver com os outros, de se relacionar na amizade e de crescer no serviço.
Estas motivações aparecem mais claramente ou não, de acordo com as situações e circunstâncias em que as pessoas vivem. Refletem também o processo de evangelização de cada uma.
O grupo de perseverança não é apenas:
. Um grupo que trabalha unido;
. A realização de uma série de atividades;
. Um ambiente em que as pessoas se sentem bem;
. Um ambiente em que as pessoas são respeitadas, aceitas, queridas, ajudadas ou compreendidas;
. Um grupo de pessoas "santas", mas gente que procura a santidade com sinceridade, com a ajuda de Jesus e a força do Espírito Santo; portanto, em uma atitude de constante conversão.
3. Grupo de perseverança: como organizar
Após a evangelização querigmática e o seminário de vida no Espírito, as pessoas devem ser convidadas a participarem de grupos menores, entre 20 e 30 participantes constantes, semanalmente, com dia e hora definidos, onde serão formadas. Estes grupos devem ser acompanhados por servos preparados para este serviço.
O servo indicado para coordenar o grupo de perseverança deve:
. Ser pessoa de vida de oração bem ordenada: orante;
. Ter visão clara do que é o grupo de perseverança;
. Ter carisma de pastoreio.
No exercício desse ministério, os servos devem contar com o apoio da coordenação do Grupo de Oração, com quem tem comunicação freqüente. Esta deve estar a par de todo o desenrolar de cada encontro.
Além disso, os servos devem ser instruídos sobre:
. Como conduzir oração;
. Como ordenar uma partilha, para não deixar que pessoas dominem, nem que alguém fique demasiadamente calado;
. Como levar o grupinho a descobrir ou renovar a ação do Espírito Santo nas suas vidas.
. O pastoreio dos participantes do grupinho;
. A necessidade de observar as pessoas que têm condição de se tornarem futuros servos.
O líder do grupo de perseverança deve ter anotados todos os dados essenciais de cada participante: nome, endereço, telefone, estado do civil, profissão, local de trabalho, data de nascimento, entre outros. Além disso, ( registrar bem a freqüência de cada pessoa para melhor acompanhá-las.
Cabe a este servo:
. Receber cada pessoa de modo acolhedor;
. Estimular os participantes do grupo quanto à freqüência, a vivência dos temas abordados, a oração pessoal e comunitária e o compromisso com a comunidade da qual participa;
. Levar as pessoas a perceberem a vida de relacionamento com Deus na comunidade, com os irmãos, no poder do Espírito Santo;
. Orientar os momentos de oração, explicar as atividades, apresentar os palestrantes e fazer ligação entre os temas e as dinâmicas.
O núcleo de serviço, em comunhão com os servos pastores dos grupos de perseverança, deve fazer um planejamento progressivo e sistemático dos ensinos a serem ministrados neles e discernirem, se for o caso, que tipo de estudo bíblico pessoal será aplicado para os membros.
A participação nestes grupos de perseverança não exclui a participação nas reuniões de oração, onde poderão testemunhar aos demais e desta forma movê-los a caminhar na vida do Espírito.
Os grupos de perseverança são espaços próprios para a colheita de novos líderes ou servos para as diversas tarefas e ministérios da RCC. Neles, as pessoas recebem os primeiros traços da formação para o engajamento no trabalho de evangelização e o serviço da Igreja na RCC.
4. Líderes em potencial
Os grupos de perseverança devem fazer emergir pessoas que possam assumir lideranças; por isso é importante observar alguns sinais para reconhecer líderes em potencial.
Estas características devem ser trabalhadas e lapidadas. As características que seguem
são as mais freqüentes naqueles que mais tarde, e com formação apropriada, poderão desempenhar funções e serviços de liderança:
. Curioso: está sempre partindo para âmbitos novos, investigando novos caminhos, sem se contentar com o óbvio e o tradicional.
. Mediador: ajuda a trazer harmonia entre os membros, em especial os que estão discordando; procura encontrar soluções mediadoras, aceitáveis por todos.
. Sintetizador: é capaz de juntar os pedaços; reúne as partes diferentes da solução ou do plano e as sintetiza.
. Prático: sempre pronto para pôr em prática a proposta dada e aceita comunitariamente; versado em organizações; procura estar sempre em atividade, sendo fiel no pouco que lhe for confiado.
. Proponente: dá idéias e propõe ações; mantém as coisas em andamento.
Essas características não devem ser procuradas de maneira absoluta. Muitas vezes, pessoas que não atendem a um ou outro requisito destes, pode ter perspectiva de se tornar um líder, desde que receba formação adequada e que ame sinceramente a Deus e aos irmãos. Mas é fundamental que seja identificada nas pessoas o carisma para este tipo de serviço.
5. Fundamentação Bíblica
"Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações" (At< 2,42).
Os grupos de perseverança são fundamentados em quatro princípios:
a) Doutrina dos Apóstolos
b) Comunhão fraterna
c) Fração do Pão
d) Oração
a) Doutrina dos Apóstolos
O ensinamento dos apóstolos consisti, antes de tudo, nos gestos, palavras e ações de Jesus Cristo. Os servos precisam desenvolver nos grupos de perseverança um relacionamento conforme o que Jesus ensinou: viver, orar e trabalhar juntos, e tudo dentro do amor que se recebe de Deus, por seu Espírito, para dá-lo aos irmãos.
Nos grupos de perseverança da atualidade não se trata de copiar tudo o que se fazia antes, mas sim de ter a mesma atitude, a mesma disposição interior e o mesmo espírito que movia as comunidades primitivas. Na realidade, trata-se de um alinhamento ao espírito das comunidades primitivas, nas quais o Senhor ressuscitado vivia, estava presente, era o centro da comunidade sempre movida pelo Espírito Santo.
A doutrina dos apóstolos é a doutrina da Igreja. Portanto os grupos de perseverança devem ser instruídos nos ensinos da Igreja, principalmente os contidos no Catecismo da Igreja Católica. Devem existir momentos de catequese, onde a doutrina é exposta e os participantes são instruídos, a modelo do que ocorria nas comunidades primitivas. Este ensino deve ser programado de tal forma que a doutrina seja ministrada de maneira contínua, progressiva e seqüencial, não aleatoriamente. Existe a necessidade de preparar catequistas e mestres capacitados e competentes para este serviço.
b) Comunhão fraterna
Podemos traduzir a expressão "comunhão fraterna" por fraternidade. Os participantes dos grupos de perseverança têm a oportunidade de se conhecerem melhor e, desta maneira, exercerem a caridade e a solidariedade uns com os outros.
A meta é atingir o que se dizia dos cristãos: "entre eles não havia necessitados" (At 4, 34a). O líder de cada grupo de perseverança deve promover ações que facilitem o relacionamento e o conhecimento dos seus participantes.
A partilha é fundamental para estreitar os laços na comunidade. O tempo é algo muito precioso, que os participantes precisam saber partilhar. É muito difícil amar sem conhecer. É necessário compartilhar da vida do outro para que cresça a responsabilidade e o amor por ele:
"Avaliando nossas atitudes, nossos comportamentos diante das pessoas, diante daqueles que nos solicitam, daqueles que querem conversar conosco, daqueles que nos param quando estamos com pressa, atarefados, ou cheios de problemas; avaliando nossas reações diante destas situações, poderemos sentir como estamos vivendo em comunhão, verdadeiramente. Comunhão envolve perder, digo, ganhar tempo com o meu irmão, eu ganho, ele ganha. Partilho das minhas riquezas e misérias. A partilha sempre enriquece quando é vivida no amor".
c) Fração do Pão
A participação na Santa Eucaristia desencadeia uma espiritualidade eucarística. A Eucaristia é o centro e o cume da espiritualidade cristã. O grupo de perseverança deve incentivar a vivência da Eucaristia e dos demais sacramentos da Igreja.
Nos grupos de perseverança, o pão da Palavra deve ser alimento constante, portanto a "fração do pão", a partilha do pão, se reveste também da partilha da Palavra, sendo incentivada a leitura e a reflexão partilhada das Sagradas Escrituras.
d) Oração
O grupo de perseverança é parte do Grupo de Oração. Portanto, nele a oração deve ser como é na própria RCC, com a manifestação dos carismas efusos. No grupo de perseverança, por ser menor, há possibilidade do exercício dos dons de maneira mais aberta e possível para todos.
Além das orações em comum, deve ser incentivada a vida de oração pessoal. Os dirigentes do grupo de perseverança podem acompanhar e verificar a espiritualidade de seus participantes. Na RCC, chama-se de pastoreio este acompanhamento.
6. Como lidar com problemas no grupo de perseverança
Todo grupo de perseverança enfrenta problemas. Sabendo lidar com eles, podem se transformar em oportunidades de crescimento. Segue-se algumas "dicas" para os líderes de grupos de perseverança, quanto aos problemas mais freqüentes.
a) Como retomar ao assunto
Muitas vezes aparecem questões que precisam ser postas à parte para dar continuidade à reunião. Em geral, o reconhecimento da situação ajuda. O líder diria: "Essa questão é interessante, entretanto, saímos de nosso tópico. Talvez possamos discutir mais sobre ela, depois que o grupo terminar de discutir o assunto em pauta". Ou sugere-se que a questão seja adiada até que se complete a idéia que está sendo discutida.
Contudo, o líder deve ser sincero e realmente voltar à questão e abordá-la se os membros quiserem. A regra geral é: "Nunca sacrifique o progresso do grupo em favor da curiosidade de uma única pessoa".
b) Como motivar todo o grupo
O papel do líder é o de condutor, não de professor. Por isso, deve estar alerta para não dominar situações nem parecer ser a maior autoridade nas questões que surjam. É bom lembrar-se dos que nada têm contribuído nas discussões e dirigir-lhes algumas perguntas.
O líder precisa assegurar-se de que as perguntas sejam fáceis, para que os que vão respondê-las não fiquem embaraçados. Se necessário, o líder deve chamar os membros do grupo pelo nome para ajudá-los a participar. Deve ser-lhes concedido tempo suficiente para responderem.
c) Como controlar os que falam muito
É tarefa difícil. O líder pode pedir a contribuição dos outros, perguntando: "Que acham os outros?", ou dirigir as perguntas a outras pessoas de maneira específica. Se isso não der certo, talvez tenha de conversar em particular com o "tagarela", explicando a necessidade de participação do grupo, conseguindo com que o falador ajude a "puxar pela língua" de todos.
Um bom método é esperar que a pessoa pare para respirar e fazer uma pergunta ou um comentário rápido que movimente a discussão.
d) Como lidar com o silêncio
O líder não deve temer as pausas. As pessoas precisam de tempo para pensar. Talvez o silêncio faça mais bem do que a discussão. Quiçá os momentos de silêncio sejam desconfortáveis, mas não improdutivos.
e) Como responder sem responder
O líder nunca deve ter medo de dizer "não sei". Quando não sabe respostas não deve inventar uma. Em todo caso, não deve ter medo de deixar perguntas sem resposta.
f) Como tratar com assuntos controversos
Quando o grupo leva a sério a busca da verdade, há receio de que a amizade e camaradagem possam ser prejudicadas. Sempre existe a tentação de contornar as questões vitais e confiar em respostas superficiais. A melhor maneira de lidar com assuntos controversos que venham à tona é apoiando-os na doutrina da Igreja. Se o dirigente desconhecer a posição da Igreja, é bom sugerir adiamento da questão para quando for possível opinar ou responder corretamente.
g) Como tratar um grupo apático
Em geral, o grupo reage conforme a atitude do líder, que deve rezar pedindo entusiasmo. Se quiser que o grupo seja entusiasmado o líder tem de demonstrá-lo verdadeiramente não apenas uma exaltação superficial e externa.
7. Fundamentação Doutrinária
Alguns textos do Magistério da Igreja podem ser indicados, a título de fundamentação:
a) "É urgente a formação doutrinal de todos os fiéis, seja para o natural dinamismo da fé, seja para iluminar com critérios evangelizadores os graves e complexos problemas do mundo contemporâneo" ( Christifidelis Laici, 60).
b) Dê-se especial importância à formação bíblica que ofereça sólidos princípios de interpretação. Estimule-se a prática da leitura orante da Bíblia (=Lectio Divina), fazendo dela fonte de inspiração de nosso encontro com Deus e com os irmãos" (CNBB, Doc. 53, n. 36 e 37).
c) "A formação doutrinal dos fiéis leigos mostra-se hoje cada vez mais urgente, não só pelo natural dinamismo de aprofundar a sua fé, mas também pela exigência de racionalizar a esperança que está dentro deles, perante o mundo e os seus problemas graves e complexos. Torna-se, desse modo, absolutamente necessária, uma sistemática ação de catequese, a dar-se gradualmente, conforme a idade e as várias situações da vida, e uma mais decidida promoção cristã da cultura, como resposta às eternas interrogações que atormentam o homem e a sociedade hoje" ( Christifideles Laici, 60) .
d) "Os movimentos eclesiais, trazendo a contribuição do seu próprio carisma (...), cuidem da formação de seus membros, pondo sua organização a serviço da evangelização...". (CNBB, Doc. 61,289).
e) "Uma tarefa das mais urgente da Igreja de hoje é a formação de fiéis leigos. A formação dos fiéis leigos tem como objetivo fundamental a descoberta cada vez mais clara da própria vocação e a disponibilidade cada vez maior para vivê-la no cumprimento da própria missão. Por conseguinte, ela deve ser uma das vossas prioridades. No mundo secularizado de hoje, que propõe modelos de vida sem valores espirituais, esta é uma tarefa urgente como nunca. A fé esmorece quando se limita ao costume, ao hábito, à experiência meramente emotiva. Ela deve ser cultivada, ajudada a crescer, tanto a nível pessoal como comunitário. Sei que a Renovação se prodigaliza para responder a esta necessidade, procurando formas e modalidades sempre novas e mais adequadas às exigências do homem de hoje. Agradeço-vos o quanto fazeis, peço-vos que persevereis no vosso empenho". (João Paulc II, Discurso à Comissão Nacional Italiana da RCC, 4 abril de 1998).
8. Conclusão
É importante trabalhar na conscientização dos católicos para trilhar o caminho da busca de formação, entrosamento e perseverança. Engajando-se bem nos trabalhos da RCC, que é um movimento eclesial, a pessoa estará engajada na Igreja a serviço do Senhor.
O trabalho no Grupo de Oração identifica-se com a missão de todo batizado e também é chamado do Senhor. "Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim, também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim... Se permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedirei tudo o que quiserdes, e vos será feito. Nisto é glorificado meu Pai, para que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos" (Jo 15,4.7-8)
A aceitação, entrega e participação de todos irá tornando mais claro e transparente o amor do Senhor Jesus para cada um; a salvação experimentada no interior do grupo de perseverança será a força que impulsionará os participantes a levá-la aos outros. Um grupo de perseverança poderá ser testemunha, um indicador de uma experiência onde cada um encontrou o amor misericordioso de Jesus Cristo feito realidade acessível para seguir, sendo salvação para todos.